Cine Cult: O Quinteto da Morte - a arte da comedia inglesa

Os motivos de tal afirmação são explicados pela própria composição da obra. Para começar, uma direção mais que inspirada de Alexander Mackendrick. E um elenco jamais igualado: Alec Guinness como um sinistro “Professor” Marcus, Peter Sellers ainda no início da carreira cinematográfica é Harry Robinson, Herbert Lom faz uma espécie de gângster com Louis Harvey, Danny Green como o brutamontes abobalhado “One-Round” Lawson, e Cecil Parker interpretando o gentleman “Major” Courtney.

O fantástico enredo mostra a Sra. Louisa Wilberforce (Katie Johnson), uma viúva com uma grande imaginação e um determinado senso de justiça, que coloca um quarto de sua casa à disposição para ser alugado. Quem se interessa é Marcus, líder de um grupo de assaltantes, que se passa por amigos integrantes de um quinteto de cordas. O objetivo do bando era na verdade roubar o carro-forte de uma companhia de seguros. Mas tudo dá errado quando a velhinha descobre e eles têm que matá-la. O detalhe é que nenhum deles possui coragem.

Esse roteiro genial, de um humor negro, ora assustador ora hilário, foi escrito por William Rose, que foi indicado ao Oscar e ganhou o BAFTA por esse trabalho. Não era para menos. Uma estória atemporal, apesar de fazer clara referência à sociedade inglesa do pós-guerra. Tanto que chegou a ser refeita pelos irmãos Coen em 2004, com Tom Hanks liderando o quinteto. Mas como era de se esperar, não conseguiu obter o mesmo sucesso.

Impossível esquecer-se de acrescentar as interpretações dos cinco assaltantes. Alec Guinness torna este um de seus melhores trabalhos, carro-chefe do filme. O restante do grupo também brilha. Destaque para os sempre talentosos Peter Sellers e Herbert Lom, que voltariam a atuar juntos novamente na série cinematográfica da Pantera Cor-de-Rosa.

Com relação à atriz Katie Johnson, teve na Sra. Wilberforce sua atuação mais famosa. Começara a carreira ainda no século XIX, no teatro, indo para o cinema já tarde, aos 55 anos. Na época do filme, tinha 77 anos. Acabou morrendo menos de dois anos após a estréia do mesmo.

“O Quinteto da Morte” é um filme para ser cultuado. Uma das melhores comédias, não apenas do cinema britânico, mas da Sétima Arte como um todo. Uma pena não ter conseguido, mesmo após tantos anos, torna-se um título conhecido por aqui. A refilmagem dos Coen até ajudou, mas não foi suficiente. Provavelmente é fruto da influência norte-americana. Para ser lançado em DVD no Brasil, por exemplo, precisou ser a partir de uma loja, visto que de própria vontade, nenhuma das grandes distribuidoras se interessou. Ainda assim, existe a esperança que um dia os brasileiros possam verdadeiramente apreciar este clássico genuíno, para ser visto e revisto sempre.