Jornada nas Estrelas: A Série Animada - as aventuras pouco conhecidas

Após o fim de Jornada nas Estrelas - A Série Clássica, as reprises em pequenas emissoras fizeram da série um sucesso.


Os fãs passaram a querer novas aventuras, o que foi ocorrer com a produção de uma versão animada, com os mesmos personagens.

A verdade é que, apesar do certo sucesso na época em que foi ao ar, nem todos os fãs hoje conhecem essa versão.

As bem sucedidas reprises de Jornada nas Estrelas - A Série Clássica fizeram com que surgisse o interesse de explorar esse sucesso. A retomada da produção da série era inviável, assim como uma novo programa live action. Assim, fazer uma versão animada pareceu para Gene Roddenbery a melhor solução.
O estúdio escolhido foi a Filmation, que anos mais tarde foi responsável por desenhos como He-Man e She-Ra.


Jornada nas Estrelas: A Série Animada foi encarada como uma continuação da série original, uma espécie de quarta temporada. Por esse mesmo motivo, a produção não era chamada de "desenho", mas de "série animada".

A primeira temporada estreou na manhã de 8 de setembro de 1973, com a exibição de Beyond the farthest star, sete anos após a estreia da Série Clássica, também pela NBC. Foram produzidos 16 episódios nesse primeiro ano.

O grande sucesso levou à produção de uma segunda temporada, que acabou sendo a última, com apenas 6 episódios.

A DUBLAGEM

Todos os atores do elenco original foram chamados para dublar seus respectivos personagens. Dizem que, inicialmente, a Filmation iria utilizar apenas as vozes de William Shatner, Leonard Nimoy, DeForest Kelley, James Doohan e Majel Barrett. Entretanto, Nimoy teria acertado sua participação com a contratação de Nichelle Nichols e George Takei, afirmando que seus personagens eram essenciais para a série. Mas o orçamento era limitado e acabou impedindo a contratação de Walter Koenig e, consequentemente, a presença de seu Pavel Chekov. Outros personagens alienígenas foram criados para substituí-lo: o endosiano tenente Alex e a caitiana tenente M'Ress.


Curiosamente, James Doohan e Majel Barrett, além de dublarem o engenheiro-chefe Scotty e a enfermeira Chapel, respectivamente, também foram responsáveis pelas vozes de vários outros personagens da série, principalmente aqueles semi-regulares.

OS EPISÓDIOS

Muitos dos roteiristas da Série Clássica retornaram, como David Gerrald e D. C. Fontana. Segundo eles próprios, foi uma oportunidade de produzir alguns roteiros que haviam anteriormente sido pensados para o seriado.

Walter Koenig, apesar de não ter sido contratado para dublar, escreveu o roteiro de um dos episódios, The Infinitive Vulcan.


Vários elementos da versão original foram retomados ou homenageados. Para lembrá-los, comentarei alguns dos 22 episódios produzidos.

Yesterday: após retornar de uma pesquisa no Guardião da Eternidade, Spock descobre que ninguém na Enterprise o reconhece, assim como seu posto é ocupado por um andoriano. Ele então volta no tempo, para se encontrar com ele mesmo aos sete anos, quando passou pelo ritual do Kahs-wan. Nesse episódio, o ator Mark Lenard retornou dublando Sarek, o pai de Spock.


The Lorelei Signal: a tripulação da Enterprise encontra uma raça de belas mulheres no planeta Taurus II. Os tripulantes homens são afetados por um misterioso cheiro e Kirk, Spock, McCoy e o tenente Carver são feitos prisioneiros ao descerem ao planeta e acabam envelhecendo rapidamente. Com isso, a tenente Uhura assume o comando da Enterprise, pela primeira vez.

More Tribbles, More Troubles: os pingos, que apareceram no episódio Problemas ao Pingos, da segunda temporada da Série Clássica, retornam com o mesmo negociante espertalhão. Ele alega que os pingos que está vendendo são geneticamente modificados, não possuindo a mesma capacidade reprodutiva de antes, mas não diz que possuem a mesma alimentação feroz.

Once Upon a Planet:  a Enterprise retorna ao mesmo planeta que é um parque de diversões do episódio A Licença, da primeira temporada da Série Clássica. Entretanto, descobre-se que o zelador morreu e que o computador que controla o planeta está construindo perigosas imagens a partir dos pensamentos da tripulação, colocando em risco a vida de todos.

Mudd's Passion: Roger C. Carmel retorna como o espertalhão Harry Mudd, desta vez vendendo falsos cristais do amor. Ele acaba convencendo a enfermeira Chapel a usá-lo para conquistar Spock. Nisso, roupa um nave auxiliar e foge, quebrando alguns cristais, que acabam afetando toda a tripulação.

The Ambergris Element: um dos mais curiosos episódios de toda a série. Enquanto exploravam um planeta de água, Kirk e Spock são transformados pelos habitantes locais do fundo do mar, os aquanianos,e passam a respirar de baixo d'água. Para voltar a serem como antes, precisam encontrar uma espécie de cobra aquática que contém o antídoto.

The Jihad: a Enterprise vai ao asteróide Vedala e descobre que um artefato religioso foi roubado. A tripulação precisa então encontrar o ladrão, que pode iniciar uma guerra santa, ou "jihad".

The Counter-Clock Incident: na tentativa de salvar um nave que segue em direção a uma supernova, a Enterprise vai parar em um "universo negativo", onde o tempo passa ao contrário. Com isso, os tripulantes se tornam crianças novamente.
 
É possível perceber que os roteiristas tiveram maior liberdade criativa para desenvolver esses episódios. Obviamente, muitas dessas estórias não poderiam ser filmadas com atores reais, principalmente por causa dos recursos escassos, que limitavam a aparência de personagens alienígenas e filmagens fora do estúdio.


Os artistas da Filmation também puderam criar cenários mais amplos, tanto dentro da nave quanto nos diversos planetas visitados pela tripulação. E mais cenas da Enterprise, em batalha ou orbitando planetas, também foram feitas. Ainda assim, ao mesmo tempo dessa liberdade de criação, existiu uma preocupação em manter o estilo da série original.


Os recursos, ao contrário do que se possa pensar, também eram limitados na produção da Série Animada. Dessa forma, algumas pequenas adaptações foram feitas. A mais conhecidas delas foi a criação do "cinto de suporte de vida", substituindo os trajes espaciais utilizados em planetas com atmosfera inapropriadas à vida humana. Mas acabaram sendo vistos como mais uma inovação tecnológica de Jornada nas Estrelas.

PÚBLICO E CRÍTICA

A exibição de Jornada nas Estrelas: A Série Animada ocorria no mesmo horário que praticamente todas as animações da época: aos sábados de manhã. Tradicionalmente voltado para as crianças, a maioria dos programas exibidos na época eram infantis. Mas a Série Animada, ao contrário das outras, tentava atingir não apenas as crianças, mas também os jovens e até mesmo os adultos fãs de Jornada nas Estrelas. E, justamente por isso, não conquistou o público infantil.

Para tanto, roteiros apresentavam enredos mais elaborados, lembrando os da Série Clássica. A produção da Filmation também era mais detalhada, fazendo com que o programa se sobressaísse em relação aos demais exibidos na mesma época.

Talvez por esse motivo, após a primeira temporada, Jornada nas Estrelas: A Série Animada recebeu o Emmy de Melhor Programa Infantil em 1973, o primeiro da franquia. E essa foi a razão pela qual a NBC encomendou mais seis episódios, que ficaram sendo os únicos da segunda temporada. Os índices relativamente baixos de audiência levaram ao cancelamento em 1974. Entretanto, a série continuou a ser reprisada por alguns anos no Estados Unidos.

No Brasil, Jornada nas Estrelas: A Série Animada foi exibida pela Rede Globo, como uma das atrações do programa Globo Cor Especial, em meados na década de 70. Mas não chegou a ser reprisada posteriormente.

PARTE DO CÂNONE DE JORNADA NAS ESTRELAS?

Ao longo das décadas, principalmente após a produções de outros seriados e filmes da franquia, Jornada nas Estrelas: A Série Animada passou a não ser considerada parte do cânone da franquia.

Logo após o fim da exibição da primeira temporada de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, as licenças de produtos relacionados ao cânone, como histórias em quadrinhos e livros, foram renegociados. Uma das definições foi a proibição do uso por parte de escritores e roteiristas de elementos que tivessem sido primeiramente utilizados na Série Animada.

Mas, após a morte de Gene Roddenbery em 1991, os roteiristas passaram a retomar elementos da versão animada em episódios das séries Deep Space Nine, Voyager e Enterprise.

Não há um consenso, até hoje, sobre a inclusão ou não no cânone de Jornada nas Estrelas. Fica, então, mais de acordo com a opinião de cada fã.

EM DVD

Jornada nas Estrelas: A Série Animada foi lançada em dvd no Brasil em 2006, pouco depois do lançamento nos Estados Unidos.

O box trouxe todos os 22 episódios das duas temporadas, completamente remasterizados, em quatro discos em uma embalagem digipak. O áudio em inglês vinha em duas versões, original mono, e em 5.1. A dublagem em português se perdeu e não pode ser incluída.

Vários extras estivam presentes: comentários em áudio e em texto, traduzidos em português, um making of, storyboards de um episódio, entre outros.

Na época do lançamento, essa edição foi vendida inicialmente por poucas lojas. Em um tempo relativamente curto esgotou, sendo considerada hoje item raro.

APÓS A SÉRIE ANIMADA

Após o fim de Jornada nas Estrelas: A Série Animada, os fãs já desejavam uma nova produção. O sucesso continuava crescendo em todo o mundo e o interesse em explorá-lo era enorme.

A Paramount queria voltar com Jornada nas Estrelas. Um novo seriado estava por vir? Ou seria um filme?

O terceiro post abordará a história por trás de Jornada nas Estrelas: Fase II, a série que nunca foi ao ar.