Series Classicas: A Feiticeira - a magia de uma sitcom dos anos 60

Uma das sitcoms mais populares da história da televisão, A Feiticeira faz sucesso ainda hoje com pessoas de diferentes idades. Um clássico que encanta pela sua criatividade e simplicidade.

Os anos 1960 foi um período de grande criatividade na televisão em todo o mundo, em especial ao que se refere aos seriados de televisão. As sitcoms, gênero tradicional americano, foi talvez o que teve mais produções com enredos no mínimo incomuns. Monstros, agentes secretos, prisioneiros de guerra, vários foram os tipos de personagens que passaram a estar presentes na telinha. Entre esses, um dos mais populares foi, sem sombra de dúvidas, personagens com poderes mágicos.

Em 1964, o canal norte-americano ABC estreou em sua programação a série A Feiticeira. Esse novo seriado mostrava a jovem feiticeira Samantha (Elizabeth Montgomery) que se apaixona por um mortal, Darrin Stephens (na dublagem brasileira, James) (inicialmente Dick York e depois Dick Sargent) e se casa com ele, apesar da desaprovação da família, na qual todos possuem poderes mágicos. Apesar de prometer não usar mais os seus poderes, Samantha acaba tendo de fazê-lo com certa frequência, com a famosa mexida no nariz, e envolve James em grandes confusões, ao mesmo tempo em que precisa esconder que é uma feiticeira. Essa premissa rendeu centenas de episódios, em cujas histórias eram inseridas personagens históricos ou de fábulas, entre vários outros.

James (Dick York) e Samantha (Elizabeth Montgomery).

A série fez sucesso imediato, conquistando logo em sua primeira temporada os primeiros lugares de audiência. As pequenas aventuras que Samantha se envolvia por causa da mágica ou de algum outro personagem eram simples e seguiam bem o estilo das produções dos anos 60. Talvez por isso o público era e ainda é formado tanto por crianças quanto por adultos. Um programa familiar que tinha como pano de fundo o american way of life, bem representado por morarem em uma bela casa no subúrbio, terem um carrão sessentista na garagem, Samantha ser uma dona-de-casa e James um promissor publicitário.

Endora (Agnes Moorehead), a mãe de Samantha.

Vale citar também os vários personagem coadjuvantes que apareceram na série ao longo das temporadas. Primeiramente, Endora, mãe de Samantha, a personagem mais recorrente, sendo interpretada pela famosa atriz Agnes Moorehead. Não gostava de James (e nem ele dela) e era uma das principais responsáveis por metê-lo em confusões. Outros dois personagens que apareciam com frequência eram os vizinhos da casa da frente aos dos Stephens, Abner e sua esposa bisbilhoteira Gladys Kravitz, interpretados por George Tobias e Alice Pearce, que faleceu ao final da 2ª temporada, sendo substituída por Sandra Gould. Gladys sempre suspeitava de que algo não era normal, mas nunca conseguiu descobrir de fato.

Também apareciam com frequência o pai de Samantha, Maurice (Maurice Evans), aparentemente separado de Endora, fato que não podia ser bem explorado na televisão nos anos 60; a prima de Samantha, Serena (interpretada por Elizabeth Montgomery de cabelo escuro); Larry Tate (David White), chefe de James, assim como sua esposa Louise (Irene Vernon/Kasey Rogers) tio Arthur (Paul Lynde); tia Clara (Marion Lorne), a empregada Esmeralda (Alice Ghostley), o Dr. Bombay (Bernard Fox), entre vários outros.

A personagem Gladys Kravitz (Alice Pearce).
Durante a produção da 2ª temporada, Elizabeth Montgomery ficou grávida de seu então marido, o produtor da série William Asher. A forma encontrada para manter o seriado durante a gravidez da atriz foi fazer com que a personagem Samantha também engravidasse. Foi assim que nasceu Tabitha, a filha dos Stephens. Na 6ª temporada, novamente devido à gravidez da atriz, foi integrado à série um segundo filho, Adam. E ambos, para o insatisfação de James, mostraram possuir poderes mágicos como a mãe.

O sucesso de A Feiticeira logo na primeira temporada chamou a atenção das emissoras concorrentes. Foi então que a NBC encomendou a produção de uma nova série que também envolvesse uma bela personagem com poderes especiais. Assim, o então jovem produtor e roteirista Sidney Sheldon criou Jeannie é um gênio, sitcom que mostrava uma gênia de dois mil anos de idade que tentava conquistar seu amo, o astronauta Tony Nelson. Curiosamente, ambas as séries eram produzidas pela mesma produtora, a Screen Gems, mas Jeannie, apesar do sucesso que também conquistou, durou apenas cinco temporadas, três a menos que sua concorrente.

A produção de A Feiticeira enfrentou ao longo das oito temporadas diversas mudanças no elenco. Algumas motivadas pela morte de algum ator, doença ou, no caso das crianças, de acordo com o crescimento. Mas a principal e obviamente mais notada mudança no elenco está relacionada ao ator que interpretava James. Ao final da 5ª temporada, os sérios problemas de coluna de Dick York agravaram. Eles existiam desde um acidente sofrido pelo ator durante as gravações de uma filme em 1959 e dificultavam seu trabalho. York foi então substituído por Dick Sargent, que permanecer até o final da série. A abertura do programa, uma animação criada pela famosa Hanna-Barbera, também teve a figura do personagem alterada, assim como o nome.

O elenco principal em dois momentos: com Dick York, até 1969; e com Dick Sargent, até 1972.

A mudança do intérprete de um dos personagens principais levou a uma significativa queda na audiência. Mas a série acabou conseguindo manter boa parte do público por mais algumas temporadas, o que é raro em casos como esse. Durante a 7ª temporada, a queda da audiência foi mais acentuada, porém a ABC renovou a série para um oitavo ano. Nela, foram realizada grandes modificações, dentre as quais a redução no número de participações de personagens ocasionais, com os populares Kravitz e o tio Arthur não aparecendo em nenhum episódio daquele ano. Além disso, vários roteiros de episódios de temporadas anteriores foram reutilizadas. A audiência caiu ainda mais, fazendo com o que a ABC mudasse A Feticeira de horário. Entretanto, acabou batendo de frente com o programa líder de audiência daquela temporada, All in the family, determinando seu cancelamento.


A verdade é que naquele início dos anos 70, o público havia mudado. As histórias singelas, de uma família perfeita e feliz, estavam dando lugar a novos tipos de programa e a um novo estilo de humor. All in the family é um bom exemplo disso, mostrando um patriarca crítico e preconceituoso. Os temas, mesmo nas sitcoms, estavam ficando mais sérios e a magia e simplicidade de A Feiticeira, apesar de encantar ainda hoje, estava sendo deixada de lado.

A série "Tabitha", de 1977.
Ao todo, foram produzidos 254 episódios durante as 8 temporadas. É curioso perceber, por exemplo, que a 2ª temporada foi composta por 38 episódios, um número muito alto, fato comum nos anos 50 e 60, que contrasta fortemente com o padrão atual de 22 a 24 episódios por temporada.

Em 1977, a ABC estreou uma spin-off de A Feiticeira, a série Tabitha, no qual a filha da Feiticeira, agora crescida e independente, herdou os poderes da mãe, enquanto o irmão Adam é um mortal igual ao pai. Os pais nunca apareceram, ainda que alguns atores da série original tenham feito participações especiais em seus mesmos personagens. Porém, Tabitha foi cancelada após 13 episódios devido a baixa audiência.

A Feiticeira retornou em 2005, em uma adaptação para o cinema dirigida por Nora Ephron. Com uma história bem diferente, na qual Will Ferrell interpreta um ator que busca retornar ao sucesso ao fazer um remake da série clássica e Nicole Kidman é uma feiticeira de verdade que tenta viver como mortal e é escolhida para estrelar a produção, o filme não foi bem recebido pela crítica e teve uma baixa bilheteria.

Filme "A Feiticeira" (2005), com Nicole Kidman e Will Ferrell
Porém, para quem pensa que a trajetória de A Feiticeira desde as últimas temporadas do seriado é descendente, um fato interessante. Desde a exibição original, a série é reprisada constantemente em todo o mundo. Alguns países, como Argentina, Índia, Japão e Rússia, até fizeram as suas próprias versões nos últimos anos.

No Brasil, a série foi exibida por diversos canais desde os anos 60. Todas as oito temporadas foram dubladas pela AIC, cujo trabalho está presente nas temporadas lançadas em dvd. Como já mencionado, na dublagem, o nome original Darrin foi substituído por James, por se acreditar que esse era mais comum e compreensível para o telespectador brasileiro. A pronúncia incorreta do nome pela personagem Endora foi mantida, mas variando de acordo com a nova denominação. Todas as temporadas também foram exibidas, fato incomum até as últimas décadas para séries muito longas, as quais eram frequentemente abandonadas após algumas temporadas devido a queda na audiência. Isso mostra a popularidade de A Feiticeira por aqui, tornando-se ao longo das décadas uma das séries mais queridas pelos brasileiros.



Curiosidades:

Cena do episódio "Samantha", de "Os Flintstones".
- Em 1965, a série animada Os Flintstones, da Hanna-Barbera, teve a participação de Elizabeth Montgomery e Dick York dublando a versão em desenho de seus personagens em A Feiticeira. No episódio, entitulado Samantha, da 6ª temporada da série, os Stephens são os novos vizinhos dos Flintstones e Samantha, com seus poderes mágicos, ajuda Wilma e Betty.

- Nos anos 90, as duas primeiras temporadas, originalmente filmadas em preto e branco, passaram por um processo de colorização por computador. Desde então, essa versão colorizada tem sido a utilizada nas reprises no Brasil.

- Entre os personagens históricos que foram representados em episódios da série estão Benjamin Franklin, George Washington, Sigmund Freud, Júlio César, Rainha Vitória, Leonardo da Vinci, Napoleão, Henrique VIII, Cleópatra. E entre os personagens de livros, fábulas e lendas, estão Papai Noel, Mamãe Gansa, João e Maria, Fada do Dente, Monstro do Lago Ness, Príncipe Encantado, Bela Adormecida, entre outros.

Vídeos:

- Episódio 1 da 2ª temporada - dublado (parte 1)




- Episódio 1 da 2ª temporada - dublado (parte 2)



- Episódio 1 da 2ª temporada - dublado (parte 3)



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